quinta-feira, 5 de abril de 2012

Um dia, em meio a tantas
questões, estava eu em terras estrangeiras sofrendo saudades e ansioso para que
alguma coisa acontecesse ou me SALVASSE.
Pois bem, foi exatamente
nesse momento que olhei para o céu e vi uma estrela caindo a poucos passos de
mim.
Apesar da curiosidade, fiquei
na minha, acomodado na mesmice. Percebi que naquele lugar todos já tinham se
transformado em lobos. Apenas eu ainda tinha aquela aparência humana. Meu olhar
não desviava do rastro da estrela. Senti uma inquietação e uma vontade de
enfrentar os lobos e, sem ser mordido, ir prestar ajuda a tal estrela caída e,
agora com pouca luz.
Tomei coragem e fui ao seu
encontro. Apesar da queda, parecia que ela estava inteira e respirava bem... o
mesmo ar que o meu.
Ao chegar bem perto, senti
cheiro de perigo no ar, mas não tinha mais como voltar atrás e toquei na
estrela. Era lisa como uma pele de golfinho, ela imediatamente olhou pra mim,
vi em seus olhos uma alegria que um dia eu já havia sentido, percebi que ela
balbuciava bem baixinho algumas palavras e foi aí que me aproximei mais e mais.
Senti um desejo quase incontrolável de beija-la, mas não quis invadi-la e me
contive à minha humilde inferioridade de ainda ser um humano. E ao pé do ouvido
veio um pedido celestial.
- Homem, caí para que você percebesse a
minha luz. Agora que veio ao meu encontro, trago um pedido La de cima para você
cumprir, se fortalecer e se transformar em lobo igual a todos que permeiam por
aqui.
Naquele instante fiquei em
duvida se queria virar lobo igual aos outros, mas senti que aquela pequena
estrela se sacrificou para me ajudar, então me interessei em saber que pedido
tão importante seria este que caiu do céu?
E como num último suspiro de
luz, a pequenina informou:
- entre suas angústias e no escuro da sua
solidão, escreve, escreve, escreve uma estória. Seja ela qual for, a que vier
de sua cabeça. E aí encontrarás o que procuras.
E num sopro a minha estrela desapareceu.
É por ela que começo aqui
essa estória... não quero, não gostaria de
deixar de ser humano, mas pelo sacrifício da estrela, só por isso
escrevo essa estória para ser igual a
todos e virar UM LOBO!

VOU CONTAR A HISTÓRIA DE UM
CERTO ZÉ.
Zé nasceu...
e não chorou.
Dizem que não é bom sinal
quando alguém nasce e não chora!
Cresceu aprendendo a se
desviar de balas perdidas.
Era um cara pacato,
silencioso e não compreendia muito bem as pessoas.
As vezes ele até entendia, mas entendia
diferente das outras pessoas.
E por isso se isolava com
medo de ser mal compreendido.
Zé nasceu feinho, mas foi conquistando
a beleza aos poucos.
Era muito amado, mas também
muito esquecido.
Tinha dificuldade para achar
amigos. Mas quando encontrava, se doava por inteiro. E ao se doar, descobriu o
que é também se decepcionar.
Por saber que tinha essa
característica, Zé se encaixotava.
Certo dia Zé descobriu que
poderia se esconder dentro da bondade.
Só que ele levou essa ideia
ao pé da letra. Ao ponto de nunca negar nada a ninguém. Ele passou tanto tempo
convivendo com isso, que tornou-se impossível sair de sua boca a palavra NÃO.
E assim Zé foi vivendo
pacatamente.
No fundo, ele era muito
carismático, mas não percebia.
Ele simplesmente acreditava que as pessoas se
aproximavam dele porque sabiam que ele era inofensivo, sabiam que ele não pronunciava o NÃO. E por isso ele
não relaxava. E sua vida foi passando. O tempo foi passando.
Certo dia Zé teve uma atitude
e resolveu melhorar tudo em sua volta
através da força do pensamento. Então ele começou praticar e achou que com isso
entenderia melhor as pessoas. Mas ainda assim ele não pronunciava a tal
palavra.
Passou a não ter medo das
balas, pois ele já saía de casa colocando no pensamento que nenhuma delas iria
atingi-lo... tudo quanto é dificuldade Zé não sofria porque ele resolvia tudo
dentro dele mesmo, no seu pensamento. E assim Zé foi vivendo; o tempo foi
passando e ele vivendo sem negar e sem encarar!