quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

ORCA LUA - lunyk 2


Num mundo onde o aquecimento global está cada vez mais atuante, mais avassalador, vivia uma orca albina.
O nome dela era LUA, devido a deficiência genética, sua palidez era exarcerbada. A coitada enxergava menos que as de sua familia, também herança da albinez de nascença.
Porém, sempre foi uma criatura feliz e animada. Era demasiadamente rechonchuda e imensa, talvez a maior de sua espécie. Absolutamente letrada e inteligente ao ponto de se destacar no mundo oceânico pela sua sabedoria. Aliás, Lua se destacava em tudo. Até que para uma baleia pré-histórica, tinha alma de criança. Todos os cardumes, dos mais variados possíveis, gostavam de ouvir as histórias de Lua. Lua era uma verdadeira contadora de histórias de amor, suas preferidas as de William Shakespeare, histórias que ela aprendeu nos livros naufragados de um navio que um dia transportou cargas valiosíssimas. E que numa terrível tempestade, perdeu o oriente e afundou pra nunca mais voltar.
Pois bem, sempre quando se dava o inverno nas profundezas que já eram geladas da casa de Lua, toda família viajava, sempre em bando, pras águas tropicais da América do Sul.
Um dia, numa dessas viágens, Lua sentiu-se um pouco cansada e resolveu separar-se um pouco da família e, com isso, perdeu o rumo.
Como a vista lhe era fraca, decidiu seguir viagem obedecendo o caminho que transforma a temperatura da água. Estaria ela no caminho certo se a temperatura fosse aumentando e o gêlo fosse ficando cada vez mais pra trás.
Acontece que, em tempos de hoje, onde as mudanças climáticas são forçosamente trocadas de lugar, onde tempos atrás, inverno era inverno e verão era verão sempre nas mesmas épocas, no tempo de Lua, o atual, já não é bem assim. E quanto mais Lua nadava, menos ela sentia o calor da costa do sul. Mas era só impressão, na verdade ela estava certa, mas devido a essa inconstãncia da natureza, Lua além de se perder da família, encalhou na praia de Maria Farinha.
E agora? Se Lua não desencalhasse dali antes do amanhecer, ela iria pros cafundó. Iria morrer! Pois, além de sua pele muito clara e, por isso não pode receber os raios do sol, sua potência respiratória para guardar oxigênio era pouca. E agora?
Josué, pescava naquela noite.... era um dia péssimo para pesca, a água estava sargaçada demais, a maré muito baixa, nunca Josué tinha visto uma maré daquele jeito em sua vida. Mais um resultado do aquecimento global. O mar estava totalmente desregulado.
Foi então que ele, Josué pescador, avistou uma coisa branca lá longe. Era tão matuto o ignorante Josué, que a primeira coisa que ele fez foi olhar pro céu pra ver se a lua ainda estava lá. Naquele momento, não tinha lua e sim nuvem. Então Josué deduziu erroneamente que a lua descolou do céu e caiu no mar, pois aquela bola branca que ele via na beira da praia só podia ser a lua descolada do céu.
Realmente Josué estaria certo em pensar que era a lua, pois pra quem vê de longe e no escuro da noite, pode muito bem confundir uma Baleia albina com a lua do céu. A semelhança é de doer!
Josué, com medo de nunca mais ver lua no céu, ver luz em noite de pesca, largou o barcou e saiu acordando Maria Farinha inteira para ajudá-lo a lançar a lua de volta pro céu. Juntou pescador, turista, menino, menina, cachorro, gato, papagaio e fizeram uma grande corrente humana.
Lua nem respirava mais, pois já fazia muito tempo que estava encalhada no meio daqueles sargaços. Mas nunca que lua, contadora de histórias de amor, perderia as esperanças. Lua sempre acreditou nos finais felizes de suas histórias e tinha certeza absoluta que sua história não seria diferente.
Josué pediu então que todos juntos empurrassem a lua pra cima, mas teriam que empurra-la todos juntos quando ele dissesse já. E, quase amanhecendo, Josué deu seu grito: JAAAAAA!
Foi num único e poderoso solavanco que a Lua se desprendeu dos Sargarços e, só assim foi que Josué percebeu que aquela bola branca não era a lua do céu que tinha caído, mas sim a Lua do mar, uma baleia que tinha se perdido. E as núvens que cobriam a lua, se dissiparam e mostraram uma bola cheia de luz lá no céu e foi essa luz que abriu caminho para que os olhos fracos de Lua Orca pudessem enchergar o fundo do mar.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

MISÉRA






























Ele é fruto do cruzamento entre uma vira-lata no cio com um paulistinha fugitivo.
Ele só tem pele,osso e pulga.
Feio demais... faminto demais.
O encontramos ao relento numa chuva de verão, numa esquina movimentada de Jaboatão.
Depois de passarmos no mesmo local durante 3 dias, lá estava ele esperando uma atitude.
Levamos pra casa.
Eita bicho fedorento!
Carregamos num saco... de farinha... pra casa!
Pra cuidar, dar banho, comida e carinho.
Mas como dar carinho a um ser tão feio?
Um ser quase invisivel?
Antes precisávamos dar um nome a ele.
Coisa de humano é querer dar nome a tudo.
Qual?
Antes de ter uma idéia, passou rapidamente um comentário.
Isso é um miserável!
E passamos a chama-lo de MISÉRA.
Entendam.
Não é miséria, é MISÉRA.
MISÉRA.
Sentiu-se acarinhado com esse nome.
Era um nome engraçado como ele... combinava.
Era MISÉRA pra lá, MISÉRA pra ca...
Tentamos mudar umas 2 vezes, mas o danadinho só atendia por MISÉRA.
No primeiro dia ficava ele todo mirradinho tremulo de medo nos cantos da parede.
Aos poucos foi descolando passo a passo.
Ensinamos os costumes da casa, os modos e o abraçamos.
MISÉRA foi aos poucos ganhando um por um.
Antes chegavamos em casa e íamos fazer as coisas corriqueiras.
Cada um o seu ritual de chegança.
MISÉRA passou a ser o ritual coletivo.
De chegança e de partida.
Oi MISÉRA!
Tchau MISÉRA!
Comiamos separadamente em horas distintas.
Depois dele, passamos a comer juntos só pra ter aquele grude ao pé da mesa: MISÉRA.
Compramos coleira e começamos a sair todos os dias com MISÉRA pra desopilar.
Coleira para uma criatura como MISÉRA era como se fosse um troféu de cão com dono.
Um distintivo canino. Um registro. Um atestado. Uma certidão.
Ele saía todo amostrado com aquele cinto no pescoço. Fazia confusão e escandalo pros vira-latas sem dono. Fazia inveja mesmo.
Era o cão chupando manga!



A vizinhança pegou simpatia, "feição" por MISÉRA.
Até as outras criaturas gostavam de ver como MISÉRA agia, seu jeito de ser era peculiar demais... era muita felicidade para uma bicho feio como ele. Tinha muito Dono querendo cruzar suas fêmeas com MISÉRA.
MISÉRA passou a não ser mais tratado como uma criatura desprezível, fedorento ou invisível. Ficou querido, perguntado e acalentado até por seres de outras espécies. Por estrangeiros até.
Todos queriam ser iguais a MISÉRA. Até os belos e de bom berço.
Abriram até um pet shop com uma placa na entrada:
MISÉRA PASSOU POR AQUI! VENHA VOCÊ TAMBÉM. ACEITAMOS CRÉDITO.
Já nos perguntaram porque não trocamos de vez o nome de MISÉRA. Respondemos que esse é o único nome que ele quer ser chamado... MISÉÉÉÉRAAAAAAAA!
Acreditamos que foi o estado miserável em que ele foi encontrado que o transformou, que nos chamou atenção. E foi assim que ele foi abraçado pelo nosso amor... foi o sentimento humano que o acolheu, deu de comer e acarinhou.
Foi a compaixão que percebeu que apenas a miséria em que MISÉRA foi achado, poderia ser mudada a favor de si e dos outros.
MISÉRA é a alegria bem sucedida de Jaboatão!
Jaboatão não mudou o nome de MISÉRA...



Jaboatão mudou a condição...



MISÉRA mudou Jaboatão.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

GERAÇÃO LUNYK


Em tempos egoísticos, desumanos, revoltosos, cegos, nesceu um sentimento novo: O DESAMOR.
Tempos em que filhos eram gerados, beijos roubados e cerimônias realizadas sob o efeito lunatico, eram cada vez mais ficticios. Irreal.
Tempos em que relacionavam-se por email, msn, orkut, skype e punham como pano de fundo virtual um retrato lunatico. Era avassalador.
Tempos que pra se conhecer em banco de praça, comendo pastel ou até mesmo cantarolando à luz da lua. Era lenda contada por velhos cacarecos com um pé no hospicio.
Tempos de códigos e gírias... que FICAR significava beijar 25 numa balada. Balada só seria boa com vodka à luz estroboscópica.
Aqui jaz pedir mão em namoro na mesa de jantar, beijar à luz da lua cheia depois de 2 semanas de mãos dadas. Conversa olho no olho. Ih nem pensar.
Juntaram-se os “loucos”, estudaram a modernidade e o tempo avançado afim de afastar os prédios e abrir campo de visão da lua.... a lua estava cada vez mais sem os ver, como se uma catarata de tijolos e elevadores a cegasse gradativamente...
Então eles aprenderam a lingua dos jovens, lingua que se teclavam ao invés de solar palavras... linguas que viravam cada vez mais abreviaturas... xau davam com x, vc engoliam as vogais, e o tic tac do tempo que so se escrevia com TP só afastava mais a relação lunatica com a terraquia.
Depois de aprenderem a lingua e os costumes dos “modernos” foi que identificaram o mal que estava por ali: O DESAMOR.
Porque sem o amor não se fecunda, não se espalha, não se namora, não se expande, não se aproxima, não se vê... sem o amor só se morre, invisivel se torna.
Foi aí que perceberam que ninguem tava entendendo o que a natureza estava alertando. Em forma de vendavais, catastrofes, desastres, tissunames, terremotos... mas os meios de acesso virtual mostravam uma realidade também virtual. E as operadoras facilitavam em promoções e com isso, cada vez mais afastavam e desinformavam com outras informações. A lua só na tela “touch screen” ou em 3d ou HD.
E esses que aprenderam o novo, Inventaram uma estratégia de resgate salvatorio lunatico.
Onde massificaram os meios de comunicação virtual marcando data e hora para um encontro coletivo com o amor, com o maior numero de internautas possível no maior campo de futebol do mundo.... entraram em todos os emails possíveis como um vírus “perigoso” do bem.
Marcaram data e hora para o dia do abraço de amor. “vamos abraçar a lua!”
Uns toparam para relembrar os bons tempos, outros para ver se aquilo existia mesmo, outros por pura curiosidade e outros por dificuldade de demonstrar o amor.
Fizeram coisa semelhante em woodstok, mas esse seria mais abrangente.
Deram o nome desse projeto de LUNIK.
“LUNIK não é vírus, portanto aceite essa corrente...”
E esse dia ficou no calendario até hoje.
O dia LUNIK é o dia da LUA CHEIA...
de amor!